quinta-feira, 10 de novembro de 2011

.Somos todos severinos?


Definitivamente não, no meu tempo eu não era assim, meus amigos não eram assim, meus professores não eram assim e eu nem sou tão velha assim. Realmente a escola pública vem sofrendo de uma esquizofrenia generalizada, e é necessário mergulhar na merda para sentir na pele o mau cheiro. Sejamos verdadeiros, estamos enganando quem? Ou melhor, quem ensinou, tão cedo, essas CRIANÇAS a se enganarem? Tomem por criança até 22 anos, que é o que eu encontro todo dia das 7:30 ao 12:00, ainda, no segundo colegial. O que nos espera quando tivermos que lidar com os males produzidos por esses indivíduos-alunos contemporâneos da sociedade-google? Quando esses estiverem responsáveis por nos operar, nos medicar, nos atender... Eles chegarão ai? Se enfrentarmos o debate das capacidades a resposta é um NÃO bem gritado. Se pensarmos que as universidades particulares têm (desculpem) aberto as pernas para qualquer babaca que venha a pagar a mensalidade no dia, pronto, eles se formarão. Sabe aqueles trabalhos que nos passavam na escola e ficávamos a semana toda comprometidos, assustados e só de pensar tremíamos? Pois bem, isso já é da era-jurássica. Sabe o que representava ir à biblioteca no contra turno com os amigos, olhar as estantes, copiar as partes mais relevantes dos livros e, se necessário, copiar até a letra ficar redonda e legível? Pois bem, isso também já é da era-jurássica. Por isso hoje recebemos o mesmo trabalho em todas as classes. Fonte? Wikipédia. Leitura? Das quatro linhas que vai ser apresentada. Compreensão? Nenhuma. Interesse? Nenhum. Cinismo? Todos os possíveis. Sociedade-google ou sociedade-cínica? Me ajudem a achar o melhor termo. Desculpas sinceras aos alunos de hoje que ainda fazem seus trabalhos e se dedicam. Lamentações enfáticas aos que não fazem e se servem da escola como passarela. Saudações amáveis aos meus professores e colegas. Acorda alunos! Estão jogando terra em vocês todos os dias e acreditem, a cova não é tão larga.


LG



5 comentários:

Cris Quinteiro disse...

Luana, fiquei refletindo sobre seu texto. Puxa, me senti mal de no estágio não ter te mostrado esse lado...e olha que eu estava numa instituição que ainda é uma raridade nesse mar de preguiça que assola o país, tanto dos discentes como dos ...docentes. E agora estou num outro considerado modelo, e ainda acontece. Mas, Luana,seu texto é excelente, mas me preocupo com você, enquanto indivíduo. Veja, não estou preocupada com a Luana que representa uma categoria profissional, colega agora! Sabe o que é, Luana você é excelente! E mesmo entre seus colegas havia muitos que fazia e fazem igual esses alunos que você encontrou, isso que é real. Então academia e mundo da escola na verdade se imbricam. Eu estou preocupada porque não quero que você fique amarga e desanime com isso. Sua indignação é justa. E apropriadíssima. Porém precisamos dos excelentes guiando imbecis de todos os tipos e não o contrário, é por isso que eu gostei do seu texto. Porque ele é "jurássico", daquela época em que ainda se falava em láurea acadêmica. Como estagiária e pessoa você recebeu uma láurea simbólica por mim. Os seus alunos com certeza vislumbram a mesma coisa em você, por favor não desanime e não deixe de exigir e dar aula para aqueles como você; às vezes tendo de tolerar esses "googles" da vida. Sabe, os profe mais jurássicos que eu que conheci nas escolas me ensinaram como contornar essa geração do control c control v....e eu posso te ensinar, me pergunte como...mas é segredo, e nao vou por aqui pq esse conhecimento é vetado aos alunos, embora eles tb saibam o que podemos fazer para serem desmascarados. Um beijo de luz, cris.

Lg. disse...

Eu vou perguntar mesmo, não vejo a hora de ter uma resposta/saída estratégica de alguém que aprendeu na prática. Quando vi seu comentário Cris me correu um gelo na espinha. Sempre quando ficamos com aquela sensação de ter escrito demais, falado demais, dá um medinho das conseqüências. E receber uma critica sua agora seria terrível, visto que considero por demais seu trabalho e seu posicionamento enquanto pessoa comprometida com a profissão. Obrigada pela soma. Logo mais farei contato...beijo.

Tiago Tobias disse...

No bimestre passado, 98% dos meus alunos entregaram trabalhos inteiros do google. Os outros 2% fizeram um trabalho ruinzinho, mas pela sinceridade, ganharam a nota máxima. Ou seja, o menos pior é o melhor. Tristeza eu senti quando a pedagoga e o diretor de uma escola aí me chamaram para uma reunião a portas fechadas e me aplicaram um sermão, do tipo: - "Professor, você é novo, idealista. Não queira mostrar os dentes, não adianta. Se você reprova todo mundo, a escola vai ter problema com o NRE. Aí dificulta pra escola, né? Eles tiveram o trabalho de ir na lan house pesquisar. Considere isso." É o mundo kafkiano. Eu sempre converso com a minha namorada sobre o "zeitgeist" do Brasil. Sinceramente, é uma sociedade em que os imbecis são recompensados e os que se esforçam um pouco para pensar, são tachados de nerds, chatos, sem graça. O aluno mais estúpido da sala é o mais "popular", o mais "descolado" e isso vira um modelo de sucesso na cabeça da molecada. Infelizmente, não temos uma tradição que preze o conhecimento, a literatura, a ciência. Nossos heróis são o Pelé, o Ayrton Senna e nossos inventores, cientistas, escritores, são relegados ao esquecimento.

Lg. disse...

Existe, no entanto, um outro aspecto, mais sociológico, ligado aos desenvolvimentos de uma sociedade tipicamente consumista que se agarra aos "mitos" do espetáculo e das celebridades do momento. Ou seja, não mais os grandes escritores e compositores, os cientistas e filósofos, não mais os grandes empreendedores, nem sequer os megagaviões da bolsa de valores e dos bancos constituem os padrões de sucesso e de afirmação social a serem perseguidos. A culpa deve ser atribuída, sobretudo, aos atuais modelos e cânones de celebridade que contribuem para bloquear os jovens, afastando-os do sucesso acadêmico.

Anônimo disse...

Faça pelas crianças e futuras rugas.
http://sobsuspeitas.blogspot.com/2011/03/pelas-criancas-e-futuras-rugas.html