segunda-feira, 7 de novembro de 2011

.Era outra mudança.

Está sobrando parafuso. É a pior coisa que pode acontecer quando se termina de montar algo. Quando se vira com aquela cara de satisfação e orgulho e ouve um relato: esta sobrando parafusos, vários, mais de cinco. – Está seguro, veja! Segura, empurra, faz parecer firme e perfeito. A pessoa se convence, mas fita as portas muito espaçadas. – Ou era assim, ou ficaria raspando. Sobra aquela feição de descontentamento. O cansaço e a perturbação contra o conformismo e o desgosto. – É, acho que não ficou tão ruim. Vão se criando remendos, as situações, quando transcorrem entre pessoas sensatas, cobrem com remendos os contratempos. Então se vive de remendos? Quando se foge disso começa faltar parafusos? Falta, falta sim. Falta muito mais de cinco parafusos na autora. Vários. Flui o pensamento em direções desconexas e da falta de sentido se cria uma combinação. Na falta ou na sobra? Quando será que me sinto verdadeiramente eu? Qual é o meu lugar? Quais as peculiaridades de que necessito para me sentir parte de algum espaço? Quantas vezes mais vai ser preciso puxar fios, realocá-los? Como é a sua dor de ser no mundo? Um corpo recortado e submerso em um todo sem sentido. Parece-me, de qualquer forma, que não possuo as habilidades necessárias para me apropriar de fato das coisas que aos olhos alheios são tão naturais, tão fáceis de conseguir. E da falta de jeito e da sobra de olhares me construo arduamente.

LG

2 comentários:

Anônimo disse...

Era cruel porque desde sempre foi desesperada.

Parede, C. disse...

De Guimarães-eu, eu-você, você-Guimarães...
Naqueles olhos e tanto de Diadorim, o verde mudava sempre, como a água de todos os rios em seus lugares ensombrados. Aquele verde, arenoso, mas tão moço, tinha muita velhice, muita velhice, querendo me contar coisas que a idéia da gente não dá para se entender - e acho que é por isso que a gente morre.