terça-feira, 18 de setembro de 2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

.Você já estava no cume.



Alguma coisa se faz em ti que eu continuo. Não posso ouvir as respostas, mas algumas eu as intuo. Oh, poupem-me. Não, não me poupem. Tenha o mínimo de decência com a tua língua e tuas palavras. Tome nota. E esqueça a decência. HHilst

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

.Nesta época estranha a inteligência parece estúpida e a estupidez inteligente.



Que tempo é esse que o coração aperta como se fosse um demente? Desses com espasmos? Isso, esses! É preciso trocar o café pelo energético. Assim se sente menos calor. É preciso comprar um ventilador desses de fim de passarela, que quase arremessa a modelo ou a deixa careca. Que crime horrendo sugerir energético a um bom café. Não é permitido ficar na cama, ninguém deixa, a temperatura te expulsa. Depois salta as olheiras e seu dinheiro some. E sua vontade de passar o café se foi, está mais para aquele banho gelado. Comer amoras congeladas também é uma boa. “Nos últimos tempos, a seu ver, andava a comer porrada a mais do analista. [...]Freud da puta que te pariu vai levar no cu do teu Édipo. Abriu a porta do grupo e em vez de declarar Merda para todos disse Boa tarde e foi sentar-se, disciplinadamente, na única cadeira livre da sala". Procure você mesmo a referência.
LG

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

.Só coloco minhas mãos na alta corte.

Estou condenada ao mal do século, a liberdade, a boemia, a vida levada mansa; condenou-me o coração, meus olhos, minhas fantasias...os meus cobertores, a energia que sempre se esvaia. Quando precisei de calor o frio me condenou. Busquei sempre ser a condenada a ser aquela que vive em santuários, tive prestígio. Entrei para a escola cedo e dela sai letrada, habilidosa e propícia a nunca deixar de abusar das coisas. Agora faço cursos intensivos e nada mais. Por aquelas velhas que se escondem detrás das batas eu desenvolvi o asco. Decidi ser tentada eternamente. Tenho certeza que não pagarei por isso, e, caso tenha que pagar, que reforcem a pena três vezes.

LG

.Tocaia de animal que acompanha tua presa



Corpos perfumados, quentes, saciados. Todos beijados, se entregaram: nos campos profundos do verão, a relva comprimida se emaranhou, nos saguões porejantes das moradias, ao longo dos sofás, camas rangentes.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

.Da depressão depreciada. Part.infinita.



Os olhos carregam a marca do tempo, como janelas saudosas. Nada comparado às mãos que denunciam a brutalidade cronológica, com suas pintas desenhadas e sua elegância. Mãos sempre triunfam. Adquirem vida própria e definem as expressões. Mais que os olhos? Não mais. Apenas o suficiente para garantir a atenção deles. E os cabelos? Examino seus abundantes cabelos, antes tão pretos, agora tão sobreviventes. Talvez também se reiventaram para caber em ti. Quando se percebe, chora! Fica aquela lágrima boiando cheia de sal. Chora a realidade ou o passado? A fotografia cria vida ou mata? Dá esperança ou destrói? Suas mãos e seus cabelos perdido no tempo, e reiventado décadas depois, te causará que sentimento? Não poderia apenas ver a fotografia sem pensar nisso tudo? A fotografia é tão poética e perigosa quanto às frases que tentamos construir. A grande poesia dos olhos.
LG

.Do surto. part.I

Das esquizofrenias da retina, porque estava mais para imagens, isso se justifica.  Você retirando minhas cores, reiventando tipos. Das cores que eu nunca tive para caber em ti. Nós, os cães, a maça, tudo envelhece rapidissimamente, por isso, talvez, tenha você buscado o mundo das fotografias, que, mesmo amarelas, captam aquilo que nunca mais será. As ideias, essas envelhecem? As frases de amor e poesias, envelhecem? Não sei quanto. Teus olhos grandes, meus olhinhos tristes, ambos quase sempre pensantes, envelhecem, murcham, enrugam. Nossos olhos enrugam, meu bem.
LG

.O sapato que todo mundo gostou, mas ninguém viu.



Sem lamentações, mas ninguém viu! Pelo adiantado da hora soube que precisava, dentre outras coisas, acabar com as lamentações, pegar uma taça de vinho e descer as escadas para a sala da escrita. Uma máquina velha, um cheiro de traça empoeirada, aqueles quadros desbotados, a lareira sem fogo, mesmo que o fogo talvez nunca se apagasse. Os dois instrumentos sem corda, o piano desafinado, o velho violino vendido, quantas perdas! A lareira sem fogo. Sem desesperos. Os curativos vão tapando as lacunas. Compra-se coisas novas, sapatos, jóias, uma pintura moderna, um computador. Mas hoje era dia de barulho e da poeira sendo expulsa das letras da velha máquina. Até a janela trepidava pelo vento. O fogo enlatado, o grito contido, o gemido abafado, o desejo banido, as carícias adiadas. Era dia de expulsar. Quanta bebida, quanto fogo, quantas linhas. Na hora de escrever é preciso matar o desejo de alegrar o olhar com as palavras, do contrário é tudo mentira. Como se fosse necessário dissertar sobre o que é e o que não é preciso fazer. Como se fosse ansiedade, e não outra palavra a correta. Como se realmente desejo viesse depois, ou tudo junto, ou aquilo que não se explica. Como esse barulho dos dedos nas teclas, para lembrar o esforço humano em produzir e reproduzir carícias. Como se eu fosse professora de algo, e não o contrário.
LG