A casa estava
cheirosa, fui entrando. Alfred lavava a louça todo compenetrado. Quando me viu
não entendeu nada, teve ainda que olhar mais uma, e outra, e olhar novamente
para confirmar. – Senhora, cortou o cabelo bem ousado, não acha? Não! Respondi e
segui. Era um dia de pouca conversa. Escutei o barulho da louça, Alfred quebrou
um copo. Achou estranho que não fui ver, ou reclamar do acontecido. De certo o
dia não estava agradável. Escutei bater a porta e pedi que entrasse, se
aproximou complacente, com boas intenções, com aquela cara que as pessoas fazem
quando vão ao seu encontro para lhe desejar feliz aniversário. Encostou na cama
e disse: ficou muito bonito senhora, acredite, o ousado foi para qualificar.
Prosseguiu. É bom ser ousado ultimamente. Tentou sorrir, como se me alegrasse.
De fato entre mulheres e cabelo existe uma relação estranha, quase um
casamento. Esqueceu da louça e do que fazer e iniciou o que parecia ser um
discurso para me consolar. Eu sei senhora que está aqui reservada não pelo
corte, que ficou ótimo, mas porque esperava mostrar pra ela. Mas espere, as
coisas não são assim, ela verá, quando quiser ver. Isso era verdade. O fato era
que não quis ver. Todo aquele tempo perdido com pomadas para cabelo e um
pentiadinho havia sido desnecessário, analisando friamente foi um erro. Era uma
resignação. Quando Alfred Já se levantava parou para arriscar poucas palavras:
- Senhora, pessoas demostram sentimento de maneiras diferentes, não são todos
líricos e cheio de rodeios como nós, as pessoas são mais frias no demonstrar,
mas isso não significa que não gostaram, ou gostariam de estar aqui. Tente se
animar, coloque uma roupa e dê uma volta. Não desperdice o modelador do seu
corte e coloque o sorriso no rosto. Pessoas você compreende com o tempo. Disse isso,
se levantou, e continuou com os barulhos na cozinha. Alfred me compreendia,
jamais o deixaria partir.
LG
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