sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Desbravando meu peito sem fronteira.


Insistia o pingo, no rumo da cabeça, em gotejar no forro branco. Mandei chamar os pedreiros, era problema grande, coisa de mandar refazer. Vieram alguns, disseram resolver o incômodo, mas na mesma noite o pingo continuou, piorou com o tempo, vazava mais. Acendi a luz em meio à tempestade e dei conta daquele cordão branco que escorria pela parede, era a chuva alcançando a cama, molhando as cobertas, inundando o quarto. Chovia de botar medo. Era a tempestade de Esteva. Afastei o berço, cobri a criança apavorada. Helena tinha os gritos abafados com o barulho dos pingos de encontro a janela. O dilúvio era enorme, dentro e fora. Acendi a luminária e busquei um conto que entre o pavor e a ilusão fizesse tampar o instante caótico, Helena ria com o compassar da voz, esquecera da tempestade por minutos, prendeu-se na história. Vez ou outra escorregava os dedinhos no cordão de água que pendia do telhado parede a fora. Chovia sem que o balde pudesse evitar a goteira. E não havia nada a fazer, sem solução era prudente desejar que parasse. Foi quando a chuva parou, esgotaram-se as tempestades do ano e dos seguintes, era tempo de calmaria, calor, sol e casas ventiladas. Entretanto, para o desconforto e forçado contentamento, o cordão de água escorria, todas as noites, na parede do meu quarto.

LG

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