Insistia o pingo, no rumo da cabeça, em gotejar
no forro branco. Mandei chamar os pedreiros, era problema grande, coisa de
mandar refazer. Vieram alguns, disseram resolver o incômodo, mas na mesma noite
o pingo continuou, piorou com o tempo, vazava mais. Acendi a luz em meio à
tempestade e dei conta daquele cordão branco que escorria pela parede, era a
chuva alcançando a cama, molhando as cobertas, inundando o quarto. Chovia de
botar medo. Era a tempestade de Esteva. Afastei o berço, cobri a criança
apavorada. Helena tinha os gritos abafados com o barulho dos pingos de encontro
a janela. O dilúvio era enorme, dentro e fora. Acendi a luminária e busquei um
conto que entre o pavor e a ilusão fizesse tampar o instante caótico, Helena
ria com o compassar da voz, esquecera da tempestade por minutos, prendeu-se na
história. Vez ou outra escorregava os dedinhos no cordão de água que pendia do
telhado parede a fora. Chovia sem que o balde pudesse evitar a goteira. E não
havia nada a fazer, sem solução era prudente desejar que parasse. Foi quando a
chuva parou, esgotaram-se as tempestades do ano e dos seguintes, era tempo de
calmaria, calor, sol e casas ventiladas. Entretanto, para o desconforto e
forçado contentamento, o cordão de água escorria, todas as noites, na parede do
meu quarto.
LG