quarta-feira, 28 de março de 2012

Somente a arte é capaz de devolver a linguagem ao seio do Ser, através da flexibilidade, maleabilidade, docilidade, amor.

Aprendi a beber vinho branco com Rosana, domingos à tarde, quando a gente ficava namorando na sala, na casa dela. Agora não tenho bebido, que o preço anda terrível. Vinho branco e poesia. Tenho bebido a última, que também embriaga. E lembrado as músicas que ouvíamos nos longos domingos. Longos agora, naquele tempo voavam. Bebe em golinhos — ela dizia. O segredo das boas coisas está em senti-las devagar, degustando. O amor é assim também. Não ter pressa. Percorrer o corpo com paciência budista. Se tinha sexo? E não era sexo os olhares carregados de desejo? Não era sexo os beijos molhados, de língua? Não era sexo o contato, o sentir o corpo sob as roupas? Não era sexo o tocar a face com a mão trêmula? Queria ter agora, ao lado da máquina, um copo de vinho branco. Queria o corpo de Rosana, nu, sobre a cama. Não ia escrever, ou talvez escrevesse uma outra história, melhor, sem rodeios e lugares-comuns.

Charles Kiefer

http://www.releituras.com/ckiefer_vinhobranco.asp

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