sexta-feira, 18 de maio de 2007

A Carta

[...]Para que a carta lhe chegasse às seis horas, ela devia ter-se sentado a escrevê-la logo após a sua saída; tivera de lhe colar um selo e mandar alguém pô-la no correio. Era mesmo típico de Clarissa. A visita dele perturbara-a, fizera-a pensar em muita coisa. E, por momentos, quando lhe beijou a mão, tinha-o lamentado, invejado até; recordando, quem sabe (pareceu-lhe ler isso no seu olhar), algo que ele dissera em tempos: que se ela casasse com ele poderiam mudar o mundo; em vez disso, a realidade era isto, o envelhecimento, a mediocridade. Depois ela obrigara-se, com a sua indomável vitalidade, a pôr de lado todas essas coisas, pois existia em Clarissa uma corrente de vida cuja força, resistência e capacidade para superar obstáculos, conduzindo-a ao triunfo, ele nunca tinha visto em pessoa nenhuma. Sim; mas mal ele deixou a sala, ela reagiu de imediato. Tivera imensa pena dele; pensara em tudo o que poderia fazer para lhe agradar (excepto uma coisa), e ele imaginava-a de lágrimas nos olhos, correndo para a secretária a fim de enviar aquela frase, aquela saudação, ao seu encontro naquele quarto de hotel... "Adorei voltar a ver-te!" E era sincera.

[...]in "Mrs. Dalloway" by Virginia Woolf


3 comentários:

Anônimo disse...

Só dói quando atinjo o cume das reflexões na cama/E nessa nevoa esparsa,observo atento/O simbólico significado das palavras, do alento/Amostragem aleatória do pensa Luana./

Serro as grades do complexo prisional:MEU CRÂNIO/O Ímpeto inconsciente subitamente me domina/
O que vem a ser exatamente essa apologética menina?!/Futura escritora de devasso heterônimo./

Lg. disse...

quem és tu ó leitor?

Anônimo disse...

agora vc tem um blog mais intelectual!!??
legal. . .