quinta-feira, 11 de setembro de 2008

.O senão do livro.


E caem! - Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

.Sabes.


Dessa agudez que me rodeia, te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

.A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu caráter ambíguo,que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado.


O sistema vigente passou dos seus limites, transformou a arte, elemento quase divino, em uma mera mercadoria. A indústria cultural faz parte de um conjunto de fatores nocivos do nosso contexto social, junto com a política e a economia.

A indústria cultural é a chave para compreendermos o declínio em que estamos, da mercantilização dos valores humanos. Para que os meios de comunicação não corrompam as nossas crianças.

Horkheimer

.A Genealogia da Moral.

O fato de se poder confiar apenas precariamente na intenção, na promessa dos homens de observar as regras do convívio tem, segundo Nietzsche, uma história terrível.



Marca-se algo com fogo, para que fique na memória: somente o que não cessa de doer permanece na memória; é esta uma sentença da mais antiga psicologia na terra. Nunca ficou sem sangue, tortura e sacrifício, quando o homem achou necessário gravar algo na memória, os sacrifícios e oferendas mais repulsivos, mutilações mais repugnantes, as formas rituais mais cruéis de todos os cultos religiosos (e todas as religiões, na sua base mais profunda, são sistemas de atrocidades); tudo isso tem sua origem naquele instinto que adivinha na dor o mais poderoso auxiliar da mnemônica. [...]


Ah! A razão, a seriedade, o domínio sobre os afetos, toda esta coisa lúgubre que se chama pensar, todos estes privilégios e faustos do homem; quão caro eles se fizeram pagar! Quanto sangue e horror estão na base de todas as “coisas boas”!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

.O poder político tem servido, em nossos tempos, para fins malignos.


Para sobreviver em semelhante atmosfera espantosa, tem que identifica-se de certo modo com ela,
afirmando-se incluso em certo sentido.
Horkheimer, Max.

domingo, 7 de setembro de 2008

.O poema.

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Novos caminhos para o Brasil

Quanto mais penso como os brasileiros são moldados para serem apáticos, mais me abalo. Quase quando se supera a dor do atraso criam-se novas dores, novos tormentos. Tardamos a nos desprender dos nossos males de origens, dos nossos colonizadores parasitários, da exploração no nosso solo e da nossa gente, e aqui ficamos sem pilares para que os indivíduos se reconhecessem como membros de uma nação. Assim, mesmo que os indivíduos busquem um fio condutor, a dispersão e a falta de “jeito” para se lançar a política é visível.

O medo que norteia o futuro não se vê apenas nas cartas e nas borras sujas de café, está em nós, nas nossas palavras, na nossa indiferença. Uma construção feita dia-a-dia onde o produto final é desconstruir. Acostumamo-nos a deixar nossos dias ao relento, a sorte, aos representantes vários que possuímos, pena que esse relento quase sempre nos mostre o azar dentro das cuecas.

Como seria se em um estalido todos acordassem sedentos por mudanças próprias, com fome de conhecimento, desejosos de cérebros malhados mais do que corpos? Como seriamos nós se desprendêssemos do gozo limitado das futilidades modernas, do culto a forma e a beleza e propuséssemos mudanças que vão além do exterior? Mudanças visando a não corrupção da cultura dos brasileiros, para que esses ficassem aptos a participarem do processo político.

Acordemos. Pois não precisamos mais de tantos exércitos rumo ao embrutecimento. Precisamos de cultura. Não precisamos de músculos, precisamos lapidar as nossas idéias e descartar as que não nos beneficia enquanto nação. Não precisamos de modelos emprestados das outras nações, já nos despedimos da que nos colonizou e devemos fechar cada vez mais as portas para várias outras que nos consideram como inferiores.

Não façamos apenas romarias, não carreguemos somente os barros, não nos apeguemos apenas a um livro. Que sejam possíveis múltiplas leituras, para germinar da educação um fruto mais viçoso. Não nos contentemos com o mínimo, a educação é necessária para a emancipação dos indivíduos. De conformistas e quietos já sabemos que “os males do Brasil são”. Devemos aprender com a nossa história e não simplesmente reproduzi-la, fazendo com que o Brasil pare com as longas caminhadas em círculos.

Luana Garcia

.Deveria eu ter o pensamento conjunto com meu tempo, mas não, atrevo-me sempre a dialogar com barbados.



Iria suportar a caduquice do mundo, o soco, a selvageria, a bestialidade do século, a fetidez da terra, iria suportar até as retinas cruas, as córneas espelhadas, as mil perguntas mortas. Iria? Suportaria guardar no peito esse reservatório de dejetos, estanque, gelatinoso, esse caminhar nítido para a morte, o vaidoso gesto sempre suspenso em ânsia para te alcançar. Suportaria o estar viva, recortada, um contorno incompreensível repetindo a cada dia passos, palavras, o olho sobre os livros, inúmeras verdades lançadas à privada, e mentiras imundas exibidas como verdades, e aparências do nada, repetições estéreis, farsas, o dia-a-dia do homem do meu século?

.Blusa Fátua.

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, don Juan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Maiakovski

.Victor Hugo.

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

.Um roteiro para filme de terror que foi levado a sério.

Uma (figura) assustadora, bruxa rebarbativa e magra - a velha mais hedionda talvez destes sertões - a única que alevantava a cabeça espalhando sobre os espectadores, como faúlhas, olhares ameaçadores; e nervosa e agitante, ágil apesar da idade, tendo sobre as espáduas de todo despidas, emaranhados, os cabelos brancos e cheios de terra - rompia, em andar sacudido, pelos grupos miserandos, atraindo a atenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez (que poderia ter se feito uma linda brasileirinha). (E essa criança horrorizava). A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre os bordos vermelhos da ferida já cicatrizada. . . A face direita sorria. E era apavorante aquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando uma face e extinguindo-se repentinamente na outra.

Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha, (carregava o fruto da guerra que se quer tinha consciência dos motivos pelos quais se doía, que por ela se fez horroroso). Lá se foi com o seu andar agitante, de atáxica, seguindo a extensa fila de infelizes...

"É que ainda não existe psiquiatra para as loucuras e os crimes das nacionalidades"

[Trecho retirado de Os Sertões e com modificações nos parênteses].

Acredito e coloco agora em palavras minhas, que ninguém ao certo sabe o que aconteceu nesses anos, ou vagamente ouviram falar, isso mostra a falta de interesse com o que é nosso, a nossa história. Infelizmente no Brasil, com início em novembro de 1896 e término em outubro de 1897, houve um massacre, e as citações mostram parte de um relato de guerra, colocado aqui quando essas pessoas que passavam pelas fileiras de soldados ainda possuíam cabeças, pois, logo após o desfile fúnebre dos vencidos, todos, sem exceção, foram degolados.

.Zeca Baleiro.


Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...

Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

.Neste caso a etnia forte não destrói a fraca pelas armas, e sim esmaga-a pela civilização.


A força de um Conselheiro para um povo abandonado pela pátria: “O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômodos, atulhando as canhadas, cobrindo áreas enormes, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terreno; Era um baralhamento caótico dos casebres, como se tudo aquilo fosse construído febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos”.

A imagem desviada: o aldeamento efêmero dos matutos vadios, centralizados pela igreja velha, que já existia, ia transmudar-se, ampliando-se em pouco tempo, na tróia de taipa dos jagunços, canudos era o lugar escolhido por Antônio Conselheiro para realizar suas operações.
A imagem para os moradores: canudos era um lugar sagrado, cingido de montanhas, onde não penetraria a ação do governo maldito e ainda, na imaginação daquela gente simples, era o primeiro degrau, amplíssimo e alto, para os céus.
Cunha, E. Os Sertões.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

.Cordel do Fogo Encantado.

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

.Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Quanto a consciência de Fabiano à sua condição animalizada na sociedade a que pertence podemos alencar várias passagens. Affonso Romano de Sant’Ana faz uma aproximação de Fabiano à Baleia, e de sinhá Vitória ao papagaio.


O pensamento de Fabiano, no capítulo que recebe seu nome, passa por três etapas:"Primeiramente, ele se considera positivamente dizendo: —Fabiano, você é um homem’. Depois se estuda com menos otimismo, e considerando mais realisticamente sua situação se corrige ‘— Você é um bicho, Fabiano - Ou seja: um individuo que não sendo exatamente um homem, pelo menos sabia se safar dos problemas. No entanto. poucas frases adiante, nova alteração se dá em suas considerações. E de homem que se aceitara apenas como um bicho esperto, ele se coloca como um animal: “o corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu."