Então subitamente olhou
com desgosto para tudo como se tivesse comido demais daquela mistura. "Oi,
oi, oi...", gemeu baixinho cansada e depois pensou: o que vai acontecer
agora? E sempre no pingo de tempo que vinha nada acontecia se ela
continuava a esperar o que ia acontecer, compreende? Afastou o pensamento
difícil distraindo-se com um movimento do pé descalço no assoalho de madeira
poeirento. Esfregou o pé espiando de través para o pai, aguardando seu olhar
impaciente e nervoso. Nada veio porém. Nada. Difícil aspirar as pessoas como o
aspirador de pó.
— Papai, inventei uma
poesia.
— Como é o nome? — Eu e o sol. — Sem
esperar muito recitou
— "As galinhas que estão no quintal já comeram duas
minhocas mas eu não vi".
— Sim? Que é que você e o sol têm a
ver com a poesia? Ela olhou-o um segundo. Ele não compreendera...
— O sol está em cima das minhocas,
papai, e eu fiz a poesia e não vi as minhocas... — Pausa.
Perto do Coração Selvagem – Clarice Lispector
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