Era cedo. Caminhei para a garagem. Como
de costume chequei se o celular estava na bolsa, se a carteira estava no carro,
e se estava calor o suficiente para ranger o ar. Pensei nas aulas e nos alunos
de exame, no preço da DP, e visualizei a manhã. Olhei para o relógio e vi o atraso. Liguei. Era cedo.
Engatei a ré, e antes não tivesse feito. Continuei. Sai olhando o lado
esquerdo, concentrada para que não raspasse a lateral na garagem apertada. Era
cedo, mas antes tivesse ficado na cama. De repente um barulho, como se o pneu
estivesse mordido a guia. Era tarde. Olhei no retrovisor e vi uma cara de “ai”.
Era a cara dela de “ai, que dor”. Não dava pra esses momentos. Até tentei
interpretar a expressão dela diante da visão, mas não me aproximei do
acontecido, nem perto cheguei. Terminei. Sai da garagem de modo que pude olhar
o espaço, e lá estava se debatendo o bichinho sem nome. Dormia em cima da roda
dianteira, ela girou e inevitavelmente terminou com tudo. Era o fim, no começo
do dia. Observei três esticadas, e ele se foi. Era uma dor horrível que
eliminou todo atraso do mundo. Não tinha mais jeito. E não era minha culpa, mas
era um fim tão começo. O animal novo. Uma inexperiência custosa. Uma vontade de
ter previsto, mas como? Liguei para o veterinário, expliquei, ele bradou um:
sem solução. Era o fim dele, e o começo do meu tormento. Me culpei o dia todo.
Agora, 12 horas depois, ainda escuto o barulho daquele que não foi. Morreu sem
nome de batismo, mas com nome de velório. Como explicar no emprego que a falta
se deu pelo velório do gato desconhecido que adormeceu na roda do carro e foi
atropelado logo em seguida? Isso era o menor problema frente ao incômodo da
dor. Era cedo quando começou o fim do dia.
LG
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