Talvez fosse mais culta que eu, estou
admitindo. Beckett. Só conhecia uma leitora dele, minha querida musa de mãos
finas. Mas ela era também leitora dele! Comprei na companhia da minha outra
querida musa dos seios de gota. Incomparáveis. BECKETT. Molloy. Quantas musas senhores. Acabo de
ter a brilhante ideia de demitir o Alfred, ainda mais agora que estou longe
dele e não me serve pra nada. Uma mulher no lugar seria essencial. Como não
pensei nisso antes, uma mulher servindo, limpando, agachando para limpar o
cantinho da sala, aquelas meias sensuais. Ando, ando, ando. Preciso
providenciar o uniforme e as contas. Gosto do Alfred. Tenho confessado meus
gostos aqui. Mas uma mulher de saia limpando a cozinha toda molhada, ah!
Escreverei: Alfred, muito obrigada pelos serviços prestados, caso precise de
uma indicação para o novo trabalho, conte comigo. Deixarei dobrado o bilhete
com a carteira assinada e uma recompensazinha. Ficarei a tarde toda, a noite
toda, a semana inteira fora, para evitar seus olhos de cão. Aquela dor sofrida.
Tudo por uma mulher! E como explicar para a outra patroa? Direi: mulheres são
mais detalhistas, ela era uma indicação, amiga de uma tia velha, não teve como
negar. E ela dirá: estou com dor de cabeça, falamos disso depois. Vai subir as
escadas sem me olhar, tomar o remédio, se cobrir, e fingir que dormiu em 5
minutos. Não vou puxar assunto. Talvez devesse subir, explicar melhor a troca
de Alfred pela bonitona, não, bonitona não, responsável e detalhista empregada.
UNIFORMIZADA. Não esquecer! Quantos problemas com essa demissão. Devo voltar,
resolver isso, culpar o Alfred de tudo e diminuir seu ordenado. Alfred não é
sexy, é só o Alfred. A patroa é sexy! Fechei a persiana, pedi um copo de whisky,
trouxeram do melhor. Nota: estou em Passargada. O escuro e a bebida ajudam a
demitir a patroa, colocar uniforme no Alfred e fazer o Beckett agachar no
cantinho. Hilst entenderia: “por favor, tudo isso tem sentido, tem sentido tudo
o que aparentemente não tem sentido, e tem sentido também tudo o que realmente
não tem sentido? Ah, eu queria ter sentido”. (HILST, 2003, p.39) Betha ia aplaudir essa bunda! Estou íntima de tantas musas, escreverei sobre isso. Estou firme, preciso ir ao centro
da cidade. Boa tarde!
LG