terça-feira, 19 de junho de 2012

.Dos buracos do de dentro, de como tenho esperado que a outra chegue. Não essa. Que se dispa. Não que se comunique.


É tudo recurso. Era uma questão de tempo. Você pediu o texto, e eu escrevi. Só foi a menina entrar no apartamento, sentar ao lado da cama, e começar a confessar suas estórias insignificantes, para que o texto saísse. Fingi que ouvia, a queria longe, mas sabia que era uma questão de tempo, que logo sentaria ao lado e sentiria a outra metade do colchão amassar. Não demonstrar interesse não é uma questão de tempo, é uma questão de estratégia. Que ridículo isso. Apague tudo e comece novamente. Ridículo foi aquela outra contar, a outra do Brennand, que foi ver a largada e se emocionou. Contou que se emocionou? Não. Mas deve ter se emocionado. E o que era mesmo que a menina na cama falava? Falava de assimetrias sei lá do que. Falou que cheirou tanta droga que agora os dentes estavam gastos. Falou que ficou tão magra que o frio se tornou insuportável. Falou que gostaria de ser outra, mas continuava sendo. A respeito do. De acordo com. Era tudo mistura. Era recurso. Ia falar outra coisa, mas essa louca me entra quarto adentro. Mandou tirar a música, disse para não fingir inteligência, jogou os livros pela janela, quebrou os quadros, sentou no sofá e ligou a TV. Queria ser inútil como a vida toda e ela mesma. E agora fico eu obrigada a sentar no colchão, enquanto aquela me toma o sofá e me bebe todo o café. Petulante. Se ao menos me bebesse. Porcaria de livros e cacos, porcaria de buracos que deixamos abrir. Não era para ser um texto bonito, não era para ser esse. Era para escrever dos buracos, e como eles se deixam abrir.
LG

Nenhum comentário: