É tudo recurso. Era uma questão de
tempo. Você pediu o texto, e eu escrevi. Só foi a menina entrar no apartamento,
sentar ao lado da cama, e começar a confessar suas estórias insignificantes,
para que o texto saísse. Fingi que ouvia, a queria longe, mas sabia que era uma
questão de tempo, que logo sentaria ao lado e sentiria a outra metade do
colchão amassar. Não demonstrar interesse não é uma questão de tempo, é uma
questão de estratégia. Que ridículo isso. Apague tudo e comece novamente.
Ridículo foi aquela outra contar, a outra do Brennand, que foi ver a largada e
se emocionou. Contou que se emocionou? Não. Mas deve ter se emocionado. E o que
era mesmo que a menina na cama falava? Falava de assimetrias sei lá do que.
Falou que cheirou tanta droga que agora os dentes estavam gastos. Falou que
ficou tão magra que o frio se tornou insuportável. Falou que gostaria de ser
outra, mas continuava sendo. A respeito do. De acordo com. Era tudo mistura. Era
recurso. Ia falar outra coisa, mas essa louca me entra quarto adentro. Mandou tirar
a música, disse para não fingir inteligência, jogou os livros pela janela,
quebrou os quadros, sentou no sofá e ligou a TV. Queria ser inútil como a vida
toda e ela mesma. E agora fico eu obrigada a sentar no colchão, enquanto aquela
me toma o sofá e me bebe todo o café. Petulante. Se ao menos me bebesse. Porcaria
de livros e cacos, porcaria de buracos que deixamos abrir. Não era para ser um
texto bonito, não era para ser esse. Era para escrever dos buracos, e como eles
se deixam abrir.
LG
Nenhum comentário:
Postar um comentário