É tanto trabalho para amanhã, notas
para somar, provas para aplicar, capítulos para corrigir, dentista, esteticista
e outros istas, que resolvi mandar tudo as favas e terminar
descompromissadamente o dia. Palavra longa, não? E esse frio, covarde, não? Covarde
foi o Alfred essa manhã. Acredite vocês ou não, vou lhes contar. Amontoou
(palavra feia) a louça, empilhou os copos, deixou tudo quase limpo, tirou a
sujeira “mais grossa”, ficou tudo com ar aceitável e escafedeu-se. Isso mesmo
leitor, zarpou, puxou o pé, saiu vazado, ah, sei lá o que mais. Se não me
sobrasse educação teria o mandado aos quintos do inferno. Esperei que voltasse,
voltou com uma cara lavada (diferente da louça), com uma desculpinha aqui, olhadinha
baixa acolá, que fiquei com pena. Pois foi tratando de ligar a Bethânia e sair
cantando cozinha adentro. (pode ser tudojunto?). Hilst teria mandado para o
inferno, com adentrotudojunto. Se bem que, depois de visitar a casa do sol, e
tomar café da manhã com seu ex mordomo, na sua ex cozinha, deu para perceber
que ela era, sobretudo, querida. Talvez também seu mordomo não empilhasse a
louça. Que mau humor. Só não está pior porque chegou minha edição premiada do
Guimarães e o novo DVD da Betha. Ela e seus novos shows esse ano, agenda
maravilhosa, vou em três. Depois de ter sobrevivido ao Chico, ano passado,
posso arriscar Betha esse ano. Desnecessário isso, três. O coração vai parar no
primeiro mesmo, só vai ter gerado gastos, hotéis reservados, diárias perdidas,
cadeiras vazias. E perguntarão: cadê a moça, fãnzooona da deusa? Uns: morreu de
felicidade na última apresentação. Outros: não aguentou pagar, desistiu. Mais um:
está de caso com a Betha e vai assistir do palco. E ela estará lá, confirmando
o primeiro palpite e esticada na caixa infinita. Infinita é bobagem gente.
Todos sabem que quando morre o próximo, vão lá no túmulo da família, quebram a
caixa velha, empilha todos os ossinhos e colocam em um saco, com o menor
cuidado do mundo. Ai jogam o saco lá no canto para ter espaço para a caixa
nova. Verdade, eu vi. Vi do Tio, do vô e da avó Helena, só me
comovi nesse último caso, uma parte de você resumida em um saco jogado lá no
canto. Credo. Frio e textos mortuários não dá. Deixemos isso para as estórias
de Allan Poe, a imaginação de Tim Burton e a voz de Vincent Price. Ficamos por
aqui, com a corrida para a jornada tripla assim que despertar o relógio,
trabalho, mestrado, biblioteca, mestrado, trabalho, casa, dissertação. Sentirei
falta de Londrina e desse frio quando tudo isso acabar, ou quando a mudança
vier para outra cidade, ou quando vier para a caixa, depois para o saco, depois
para o fundo, depois para o canto, depois para o nada. Que texto bonito e
motivador que produzi, é sempre um orgulho. Alfred, venha até aqui que estou
com medo do saco. Boa noite.
LG