segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Falando sério.

Aconteceu que, passado alguns anos, Teobaldo não aparecia para visitar a família. O pai, seu José, velho e cansado de esperar, já se contentava com o esquecimento. Sentando na varanda, com seus 70 e alguns anos, seu José recebeu a tão esperada visita. Colocaram a mesa como há muito tempo não se colocava. Teobaldo recebia mimos de criança e via nos olhos familiares vestígios de admiração. Aos poucos foram chegando os tios, os primos e os que souberam da visita.
Casa cheia, atenção voltada ao político, ambiente propício para histórias. Teobaldo ameaçou falar, o silêncio tomou a casa. Começou falando do trabalho e da sua agenda, falava mais da agenda, das visitas, dos jantares, das convenções, do que propriamente da política. Gabava-se. Quando notou que alguns se dispersavam aumentou o tom da voz e começou contar uma história, as pessoas rodeadas o inspiravam. Falava do começo de tudo, do começo do Brasil, dos primeiros homens que aqui chegaram, falou das raízes ibéricas, de miscigenação...
Quando Teobaldo foi embora muitos foram os comentários, falaram da sua pele, do aspecto saudável e das mãos finas. Naquela noite, todos os pais que presenciaram a visita do político desejaram que seus filhos seguissem o mesmo rumo, ganhassem dinheiro, vivessem bem, trabalhassem pouco e desfrutassem muito. Compreenderam que o melhor caminho era, não em todos os lugares, mas no Brasil, que seus filhos optassem pelo trabalho mental, aquele que não suja as mãos e não fadiga o corpo.
Seu José ficou a repetir aos que quisessem ouvir as histórias. Gostava de lembrar algumas frases que Teobaldo dissera naquela noite, pensou tanto nas tais raízes ibéricas e passou a ter receio dos portugueses. Teobaldo justificava algumas das incompetências dos brasileiros e dificuldades do país aos velhos colonizadores, mesmo depois de tantos anos.
O fato importante foi, que mesmo após muitas histórias de Teobaldo, os pais que sonharam aos seus filhos o mesmo futuro do político, não sabiam explicar e nem conseguiam entender o motivo que fizera com que Teobaldo tivesse se sobressaído tanto. Preferiam um contador de historia a um trabalhador. Custaram a entender que no Brasil nada importava tanto como o anel de grau e a carta de bacharel, bens que poderiam equivaler a autênticas ferramentas de dominação e poder.
lg

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