Eu deveria mesmo ter medo, agora eu tenho pacotes de vários sentimentos, eu deveria ter desapego, agora tenho objetos cheios de simbolismo, eu deveria ter uma mente menos destrutiva, agora tenho uma apostila atualizada e com gravuras, eu deveria ter seguido o conselho de um amigo e me exilar por 3 dias, mas no momento estou aprendendo a ser gente grande, tornando-me engrenagem de uma grande máquina, estudando, trabalhando, comendo, dormindo e sistematizando isso em horários fixos, aprisionada, disso realmente eu tenho medo. Medo de ser apenas uma peça, de me colocarem em uma esteira de produção em série, de me confundirem com alguém na rua ou fingirem não me reconhecer, de perder minha originalidade ( se é que um dia tive uma), medo de tornar-me tudo aquilo que eu critiquei um dia, medo não do fogo, mas de um coração gelado.
Quem sou, sinceramente, estudante de sociologia, daquelas pessoas que para sempre terão que conviver com a pergunta da vizinha: mas o que você faz mesmo? Leitora viciada e jogadora de xadrez aposentada.
Nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós.
Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas" Clarice Lispector
Nenhum comentário:
Postar um comentário