domingo, 5 de outubro de 2008

.Lá sou filho do rei.

.Bem cedo, ou mais tarde.

A Cartola do afeiçoado senhor trepidou sutilmente cumprimentando as formosas donzelas, as mesmas de sempre, as quais se encontravam ali, nas janelas, do nascer ao por do sol. Passou sem que desta vez fizesse muita observação, lembrava de cada rosto, debochadamente, como se as molduras já fossem ornamentos orgânicos que se fundia aos penteados vários. Quase sempre, essas moças de meia idade, já maduras para casar, atiravam-lhe objetos, lencinhos, cravos vermelhos, em uma atitude desesperadora, uma súplica calculada. Gostava disso, mas hoje não se atentou aos seus movimentos. Logo pela manhã o dia fazia-se agradável. De sol calmo. Uma parada no requintado café Orleans, em dias normais atrever-se-ia assentar por mais tempo, mas hoje ficaria pouco por ali. Fez questão de inovar no pedido. – Um chá! A visita à loja de vinil era indispensável, porém, apenas desta vez, para evitar o atraso, rumou ao encontro. Passou novamente pela rua das molduras, sentiu ser observado por todas elas, não se ateve. Alguém em todo aquele vilarejo marchava rumo aos prazeres da carne. Parou na casa de porta amarela, encontrava-se no segundo terreno depois da esquina, bateu três vezes, bastou para que lhe atirassem a chave. Subiu. Repousou a cartola em um criado-mudo. Devolveu a chave. Sorriu pela metade. Envergonhou-se. Mostrou o dinheiro. A dama ainda olhou para o anel. Retirou-o colocando sobre o criado. Deitou por cima, ora por baixo amando 3 mil trocado de réis e um anel familiar. Pegou a cartola. Passou pelas moças nas janelas. Voltou ao café e ao terminar rumou a loja de vinil.
lg

Tu, para amenizar as dores tuas,

Eu, para amenizar as minhas dores!
Que cousa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

.Os automóveis que me cercam.



Nas asas do bem desse mundo
Carregam um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti...

sábado, 4 de outubro de 2008

.As asas de gigante impedem-no de andar.


Que plana sobre a vida a entender afinal
A linguagem da flor e da matéria sem voz!

.Como já disse outrora.

Eu deveria mesmo ter medo, agora eu tenho pacotes de vários sentimentos, eu deveria ter desapego, agora tenho objetos cheios de simbolismo, eu deveria ter uma mente menos destrutiva, agora tenho uma apostila atualizada e com gravuras, eu deveria ter seguido o conselho de um amigo e me exilar por 3 dias, mas no momento estou aprendendo a ser gente grande, tornando-me engrenagem de uma grande máquina, estudando, trabalhando, comendo, dormindo e sistematizando isso em horários fixos, aprisionada, disso realmente eu tenho medo. Medo de ser apenas uma peça, de me colocarem em uma esteira de produção em série, de me confundirem com alguém na rua ou fingirem não me reconhecer, de perder minha originalidade ( se é que um dia tive uma), medo de tornar-me tudo aquilo que eu critiquei um dia, medo não do fogo, mas de um coração gelado.
lg

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

.Reproduzir as alegrias, os sofrimentos.

Parecem indicar que atuam sobre as sociedades, como sobre os indivíduos, independentes de pressão econômica, forças psicofisiológicas, suscetíveis, ao que se supõe, de controle pelas futuras elites científicas – dor, medo, raiva – ao lado das emoções de fome, sede, sexo.

.Fome crônica.



Salientam-se entre as conseqüências da hiponutrição a diminuição da estatura, do peso e do perímetro torácico; deformações esqueléticas; descalcificação dos dentes; insuficiência tiróidea, provocações de velhice prematura, fertilidade em geral pobre, apatia. Eis aqui o sangue maldito das chamadas ‘raças inferiores’.

.O Menino do Dedo Verde.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

.Meu objetivo.


Não visava apenas demonstrar, mas convencer.

E convencer significa ‘vencer junto’, autor e leitor.

.A crença na crença.



Devemos respeitar a religião do outro, mas só no mesmo sentido e na mesma proporção com que respeitamos sua teoria de que sua mulher é linda e que seus filhos são inteligentes. OU SEJA, DEVEMOS?!




É impressionante a quantidade de gente que não consegue entender que "X é um consolo" não siginifica "X é verdade"

.Trovas de muito amor.

Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos morar nos Alpes Suíços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? Vamo brincá que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? E que os humanos não comem mais os animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? Vamo brincá

de teta

de azul

de berimbau

de doutora em letras?

E de luar? Que é aquilo de vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?

Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave

ave

moinho

e tudo mais serei

para que seja leve

meu passo

em vosso caminho.*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

.Só não se perca ao entrar.

No meu infinito particular...
É só mistério, não tem segredo.

.Os negreiros.

Devemos mais que gratidão: "A grande muralha movediça de carne, que foi alargando as fronteiras do Brasil. A lama de gente preta que fecundou os canaviais e os cafezais e lhe amaciou a terra seca."
Gilberto Freyre

.Somos uns boçais.


Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...