Onde será que isso começa? Tem uma
casa nova cheia de lirismo, tem livros e gatos. Tem amigos jogados no sofá, tem
visitas na sacada, pessoas que se quer eu conheço. Tem Frank Sinatra e whisky e
toda uma parcela mais familiar e suportável. Tem comida de ontem e arroz
esquentado. Tem bolo de banana e flores para todo lado, tem uma espécie de
verde comovente e umas poltronas vintage.
Era pra ser por ai. Tem uma Vodca russa que deu trabalho conseguir e um
ventilador que não se parece com os outros. Tem o Chico filho da Cássia e o Chico
neto do Buarque nas pesquisas recentes. Os gatos correm conformados, mas com
saudade dos seus quintais, reais ou não, como diria Bethânia. Tem muita Bethânia,
por mais que seu quadro ainda está por fazer. Tem um chaveiro emoldurando uma
janela em amarelo-marrom. De dia o sol nasce a esquerda e se põe a direita da
minha sacada, tem como colocar o bistrô bem no meio e ficar sempre no meio-dia.
Tem gatos felizes desarrumando o tapete, tem gato atrofiado em um canto da casa
querendo não ser. Tem maria-dora-amora e caixa de sílica, comida fresca e água
gelada. Tem o amor no almoço, corrido, precisando vencer os compromissos
inadiáveis. Tem compreensão e tudo estará certo se eu não precisar tirar o
pijama o dia todo. Tem férias, um constante pedido para que a TV me surpreenda
e a internet de conta. Ontem roubaram o caminhão com os instrumentos musicais do
Caetano. Tudo ficará mais corrido depois e a bateria está acabando. Aquele
livro também. Tem sociologia em cada
canto e livros de arquitetura expostos
na sala. Tem violão-violino-raquete-cafeteira. É um momento de felicidade. Tem
samba alternado com jazz, e ela voltará logo menos para tudo começar a
funcionar.
LG