quarta-feira, 28 de novembro de 2012

.Aprenda a dançar flamenco e eu lhe direi.



Senta aqui e me acompanha, não quero jantar sozinha. Olha só, Alfred, hoje disseram que eu escrevo bem, alguém já disse que você escreve bem? Não! É só começar escrever que dirão um dia, pode confiar. Achei estranho abrir a porta e encontrar esse envelope para a Luciana, quem seria Luciana? Desprezíveis esses meus vizinhos, como se não soubessem meu nome ainda, COMOSEEULIGASSE. Ligo, ligo mesmo, para o barulho que eles fazem e que tira minha concentração para escrever, a velha que grita o tempo todo, a vizinha de baixo que sempre trama uma revolução pelo interfone, a vizinha do lado que insiste em me pedir pó Royal, tenho cara de quem usa pó Royal? O mais importante é que disseram hoje que eu escrevo bem, e ainda citaram um texto de 2007, devo ter melhorado de 2007 até agora, então, então, vejamos, estou bem! Acho que fiquei ranzinza, velha, empoeirada, e todas essas coisas que falam de velhos, antes eu escrevia sobre o amor, agora escrevo sobre os vizinhos, o barulho, cartas que não são minhas, em diálogos com o mordomo. Sentiu-se ofendido, Alfred queridinho? Não fique ofendido chuchu. Você é ótimo, ruim é a minha onda de escrita. Fico mais interessante quando escrevo sobre sexo, ou as possibilidades dele. Espera! Estou pensando em uma coisa. Que coisa? Uma coisa melhor, mais animada. Estou pensando se aquela outra teria coragem de. De? Você sabe! Não. Sabe! Fale mulher. Se teria coragem disso mesmo que você também está pensando. Mas eu não estou pensando em nada. Claro que está, você é tão mentiroso Alfredo. Não estou. Diga-me. Estou curioso. Senhora, Senhora...
LG

terça-feira, 27 de novembro de 2012

.Olha uma mulher pelada ali!

Não sou mais uma das tais...
Como desejei ter asas e algumas noites, para te reler. Guardados. Tu não os guardava, Rute, proibia-os de mim porque eu os amava, porque se a poesia se fizesse o meu sangue, a alma solar rejeitaria teus algarismos santos, porque se o poeta em mim amanhecesse no traço ou no verso, veria Rute esvaziada.
HILST

sábado, 24 de novembro de 2012

.Ai quem me dera ter-te.



“Eu quero ver a água do mar lambendo você nos seus pés”

Eu nunca tinha ouvido a fala do amor, o frio o calor, eu logo entendi que quando o rapaz, seu olhar estrangeiro olhou para mim. Seu olhar estrangeiro falava uma língua que eu logo entendi, senti no meu corpo uma coisa tão louca, que eu nunca senti. Ele olhava minha boca, ele olhava meu corpo, ele olhava em meu seio, olhava no meio, bem dentro de mim. No princípio o perigo, depois eu olhava eu olhava, não tinha receio. Desejava queria no precipício, abrir minhas asas desvendar o segredo, seu olhar penetrante, invadia ofegante no meio de mim. Rasgava o meu ventre o meu corpo inteiro, me vendo por fora, me vendo por dentro, do principio ao fim. Depois me olhou, me olhou, me olhou de baixo para cima, em cima, embaixo, dentro de mim. Me queimando, queimando, o céu o inferno, o paraíso é assim.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

.É a escolha entre ser calma e ser feliz.



Seja qual for o tema o que te importa é sexo, seja alegria, angústia, choro, encanto ou dor. Seja de ausência, sonho, tara ou por complexo, seja na cama, palco, escada, elevador. Eu penso mais na tua pele e na tua língua, do que na alma que teu olho me mostrou. É sem teu corpo que minha'alma fica à míngua, e é no teu seio que conserto o que quebrou. E quando falo da tua luz assim, quem dera, ela acendesse em mim o santo que não sou. O que eu marquei na tua pele não se lava, pode ser cheiro, hematoma ou cicatriz. É pelo sexo que meu sol te faz escrava, quer seja santa, cidadã ou meretriz.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

.Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta. O lençol amarrotado mesmo que vazio. Deixa a toalha na mesa e a comida pronta. Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio.



Você me acorda uma hora dessas? Estava sonhando com deus. Questionando que depois do meu corpo e depois do meu sangue chego até onde? Até onde eu existo? Até aquele grande muro, ele dizia. E apontava para um muro enorme, e eu estava distante do muro. Então significava que eu vivia muito além do corpo, porque se o muro estava longe. Mas você me acordou Alfred, e agora não sei exatamente a distancia do muro. E porque haveria de ter muro nesses diálogos? Fernando Pessoa, como vários outros autores, imaginava a conversa com o divino em um campo aberto, sempre verde ou florido, um dos dois. Muro? Tenho uma muito amiga que sempre quando goza sonha com diálogos divinos, depois fico me questionando que diálogos seriam esses? De aceitação, de reprovação, de jogo conjunto? Oh! Quanta besteira. Estamos falando do divino, e estamos falando de gozo tudo no mesmo conto? Será que a distancia do meu muro, depois disso, vai se encurtar? Olha Alfred, você tem sorte que acordei, olhei o livro aqui do lado, e lembrei do sonho, merecia, na verdade, uma grande bronca pelas inúmeras recomendações não levadas a serio que sempre lhe dou sobre “não acordar as pessoas”. Isso é tão desagradável! Perceba o quanto incomoda, veja minhas olheiras, precisava de mais sono. Agora o que tenho é um sonho pela metade e esse café que você insiste em ter passado agora, mas eu sei que foi de horas atrás. Acho que quero um copo grande e alto de leite, não quero esse café. Você entende de muros, Alfred? Eu odeio leite, esqueça. Não! Não esquecerá ou não entende de muros? Escreva melhor para os outros, maluca. Mais claro, mais compreensivo. Você não entende de nada Alfredo. Alfredo? Que brasileirismo. Alfred gostaria de peixe para o jantar, assado aberto, temperado com ervas finas, rosadinho, você faz?
LG

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Deixa a minha insanidade é tudo que me resta. Deixa eu por à prova toda minha resistência. Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro. Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila.



Eu te mandaria uma carta, mas as folhas acabaram. Que começo deprimente Alfred, não corrigirei seus contos se continuar nesse tom. Escreva que enviou as cartas, mas alguém as desviou. Desse modo, demonstra que você tinha interesse. E não chore mais por isso, não vale a pena. Eu te pouparei enquanto for possível. Esse sim é um começo agradável. Você precisa agradar as pessoas, forjar o sorriso, esqueceu da nossa conversa sobre a sociedade da farsa? Tem que jogar o jogo, ir até o fim. Agora esse seu comportamento! - Senhora, posso? - fale! Não é de hoje que seus conselhos não estão em sintonia, que todas as suas saídas não me ajudam. Eu reconheço sua cara de vomito, sua fala sem graça, seu olhar sem norte, estamos todos jogando o jogo. Acho que represento, inclusive, há mais tempo que a senhora. Estamos atuando. Posso colocar no meu conto que "estamos atuando"? Convenhamos, não estou tão magro, percebe? Também não posso pagar o mesmo analista que o seu, nota? Como também não tenho dinheiro para a acupuntura. Não esta na cara?
Alfred

- Está esperando o que, Alfred? Que eu aprove esse seu conto?
- Estou esperando um conselho.
- Conselho? Rasgue isso, conserve seu emprego e não dê de analista.
- São tempos difíceis, Senhora.
- São tempos difíceis, Alfred.
LG