quarta-feira, 29 de abril de 2009

.A quem tem o coração morto, os olhos nunca choram.

Homem ao mar!

Que importa! O navio não pára. O vento é suave, e o navio tem rumo a seguir. Portanto, avante.
O homem que caiu ao mar desaparece, torna a aparecer, mergulha, sobe a superfície; grita; ninguém o ouve. O navio, estremecendo com a violência do furacão, vai todo entregue à manobra; os marinheiros e passageiros nem mesmo vêem o homem submergido; a mísera cabeça do infeliz é apenas um ponto na enormidade das vagas.
São desesperados os gritos que o desgraçado solta das profundezas. Que espectro aquela vela que se afasta! Contempla-a, vê-a convés com os companheiros; pouco ainda antes, vivia. Que teria, pois acontecido? Escorregara, caiu; acabou-se.
Debate-se nas águas monstruosas; debaixo dos pés tudo lhe foge e se desloca. As ondas revoltadas e retalhadas pelo vento rodeiam-no, medonhas, os rolos do abismo arrebatam-no, a plebe das vagas cospe-lhe às faces, e confusas aberturas quase o devoram; cada vez que afunda entrevê precipícios tenebrosos; sente presos os pés por desconhecidas e horrendas vegetações; as ondas arremessam-se umas contra as outras, bebe a amargura, o oceano covarde empenha-se em afogá-lo, a imensidade diverte-se com a sua agonia.

O homem mesmo assim, luta.

Diligencia defende-se, intenta suster-se, emprega todos os esforços, consegue nadar. Ele, força perecível, de repente, exausto, combate a força que é inesgotável.
Onde está o navio? Muito longe. Mal se avista nas lívidas sombras do horizonte.
O mar é inexorável noite social, onde a penalidade lança os condenados. O mar é a miséria imensurável.

A alma, em tal abismo, pode tornar-se cadáver. Quem a ressuscitará?"


Os miseráveis - Victor Hugo

terça-feira, 28 de abril de 2009

.E às vezes a temia a tal ponto que até a amava.


O moço toca flauta enquanto ela lembra das virtudes esquecidas nas cavernas de seu coração.

A melodia vai ecoando por toda parte, desde os ouvidos até o pulmão.

Ela tropeça nela mesma enquanto se enternece com o som raro daquela flauta.

E a tristeza transversal que até então lhe preenchia dá lugar a uma euforia luminosa,

Assim sem razão de ser, mas já sendo.

sábado, 25 de abril de 2009

Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.


Ode as postagens superficiais e aos comentários ricos em conhecimento.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

.E amor é sede depois de se ter bem bebido...



Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calada estou, calada ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.


Porque já eras minha sem eu saber sequer. Porque tu chegaste sem me dizer que vinha e tuas mãos foram minhas com calma. Porque foste em minh´alma como um amanhecer, porque foste o que tinha de ser.



quinta-feira, 23 de abril de 2009

.Hoje acordei meio Dante Alighieri.

Inferno, Canto III

Deixai toda esperança, ó vós que entrais!


Eu havia dado poucos passos, quando, de repente, saltou à minha frente um ágil e alegre leopardo. Astuto, de pêlos manchados, de todas as formas ele impedia que eu seguisse adiante. Não adiantava desviar ou buscar um outro caminho pois no final, ele sempre estava lá, bloqueando a minha passagem. Várias vezes tentei vencê-lo. Várias vezes falhei.



Divina Comédia é a obra prima de Dante Alighieri, que a iniciou provavelmente por volta de 1307, concluindo-a pouco antes de sua morte (1321). Escrita em italiano, a obra é um poema narrativo rigorosamente simétrico e planejado que narra uma odisséia pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, descrevendo cada etapa da viagem com detalhes quase visuais.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

.Eu olho pro infinito e você de óculos escuros.

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco - não sei qual.


terça-feira, 21 de abril de 2009

.Empiria.

Só acredito naquilo que posso tocar. Não acredito, por exemplo, em Luiza Brunet.


sábado, 18 de abril de 2009

.Prefiro o paraíso pelo clima e o inferno pela companhia.



Trata de saborear a vida; e fica sabendo, que a pior filosofia é a do choramingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas. O ofício delas é não parar nunca; acomoda-te com a lei, e trata de aproveitá-la.


quinta-feira, 16 de abril de 2009

.Agora falando sério.

Em apêndice ao texto sobre o protocolo e a menina do “estágio solidário” que me tirou do sério, necessito dizer que, não importa o quão complexo seja uma burocracia e quantos serão os inúmeros formulários que se deve preencher, o fim é sempre surpreendentemente bom quando se faz aquilo que tem vontade. Mesmo que não envolva nenhum assunto acadêmico ou nos cânones científicos a mensagem continua pertinente, podendo ser extra-curricular, uma conquista é sempre uma etapa avançada e a felicidade desses momentos não tem descrição. Acho que esse post é um convite aos que ainda não arriscaram.



LG

quarta-feira, 15 de abril de 2009

.Atividade utilitária.

Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente, e até mais nobilitante, a um bom português, espanhol e por conseqüência um brasileiro (que herdou desses sua cultura) do que a luta insana pelo pão de cada dia.


S.B. de HOLANDA


Nobilitante = Nobre.

.Sou homem: não julgo alheio a mim nada do que é humano.


A gente se desfaz de uma neurose, mas não se cura de si próprio.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

.Pretendo também me embrenhar.


Mediante ao dia não tão produtivo o remédio foi escrever, pelo simples fato de justificar a preguiça e de produzir algo. Se os pensadores, os filósofos, os sociólogos, os antropólogos e toda a corja precisam do ócio para produzir e não apenas produzir, mas, criar teses e hipóteses de qualidade, então, julgo estar apta. Ócio. Voltemos à literatura para ilustrar o caso. Macunaíma, do glorioso Mario de Andrade, obra expoente do movimento modernista no Brasil, afunilando mais ainda, o anti-herói, o negro retinto, o sem caráter e o responsável por eternizar a frase “Ai, que preguiça!” sem nada fazer, sem mover uma palha, sem dar duro, suar a camisa e merecer o pão. “Ai, que preguiça!”. Só de descrever tantas tarefas já me cansa, já penso em uma rede, entro em clima de feriado, procuro o dia na agenda (para decretar feriado até que uma religiãozinha cai bem), mas só pra isso. “Ai, que preguiça!”. Vem-me a cabeça o Abaporu e as formas arredondadas da Tarsila, a Paulicéia desvairada do Mario, os Manifestos do Oswald, a música de Villa-lobos, o ócio, fundamental para se recordar, fundamental para produzir e necessariamente útil aos libertinos. Ainda, para terminar, cito “muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são” e depois de lido e analisado pelos senhores deixo “muita teoria, pouca empiria, os males da academia são”.

lg

quarta-feira, 1 de abril de 2009

.Sumi para estar para sempre do seu lado.


Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,
E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades...