quinta-feira, 4 de setembro de 2008

.Um roteiro para filme de terror que foi levado a sério.

Uma (figura) assustadora, bruxa rebarbativa e magra - a velha mais hedionda talvez destes sertões - a única que alevantava a cabeça espalhando sobre os espectadores, como faúlhas, olhares ameaçadores; e nervosa e agitante, ágil apesar da idade, tendo sobre as espáduas de todo despidas, emaranhados, os cabelos brancos e cheios de terra - rompia, em andar sacudido, pelos grupos miserandos, atraindo a atenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez (que poderia ter se feito uma linda brasileirinha). (E essa criança horrorizava). A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre os bordos vermelhos da ferida já cicatrizada. . . A face direita sorria. E era apavorante aquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando uma face e extinguindo-se repentinamente na outra.

Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha, (carregava o fruto da guerra que se quer tinha consciência dos motivos pelos quais se doía, que por ela se fez horroroso). Lá se foi com o seu andar agitante, de atáxica, seguindo a extensa fila de infelizes...

"É que ainda não existe psiquiatra para as loucuras e os crimes das nacionalidades"

[Trecho retirado de Os Sertões e com modificações nos parênteses].

Acredito e coloco agora em palavras minhas, que ninguém ao certo sabe o que aconteceu nesses anos, ou vagamente ouviram falar, isso mostra a falta de interesse com o que é nosso, a nossa história. Infelizmente no Brasil, com início em novembro de 1896 e término em outubro de 1897, houve um massacre, e as citações mostram parte de um relato de guerra, colocado aqui quando essas pessoas que passavam pelas fileiras de soldados ainda possuíam cabeças, pois, logo após o desfile fúnebre dos vencidos, todos, sem exceção, foram degolados.

5 comentários:

Lg. disse...

Destacou-se, por momentos, um. Octogenário, não se lhe dobrava o tronco. Marchava devagar e de quando em quando parava. Considerava por instantes a igreja e reatava a marcha; para estacar outra vez, dados alguns passos, voltar-se lançando novo olhar ao templo em ruínas e prosseguir, intermitentemente, à medida que se escoavam pelos seus dedos as contas de um rosário. Rezava. Era um crente. Aguardava talvez ainda o grande milagre prometido...

Lg. disse...

O que a religião faz com o povo é deprimente.

Anônimo disse...

o que o homem faz com o homem por meio da religião é deprimente. o que o homem faz com o homem por meio da força é assustador. o que o homem faz com o homem por meio da política é revoltante. o que homem tenta fazer com homem por meio da paz e do amor é frustante.

Anônimo disse...

frustrante*

Lg. disse...

Nossa que bonito.
Foi você quem escreveu?